16.9.08

Pedido aos professores

Começou ontem o ano lectivo para a maioria dos alunos do primeiro e segundo ciclo. Não vou falar dos sistemáticos atrasos na colocação dos professores ou mesmo nos 40 mil que estão desempregados. Não vou lamentar a falta de recursos humanos e sociais em que muitas escolas se encontram. O acordo de cooperação na área da educação entre o governo e as autarquias também ficará para outra altura. Nada disso, o post de hoje vem trazer um pedido.
Na sociedade actual, muitos dos encarregados de educação abandonam o seu papel de educadores apontando, erradamente, os professores da escola, do Karaté e o chefe dos escuteiros como principais formadores. Em muitas situações são estas entidades os únicos pilares educacionais. É a estas entidades que presto homenagem e faço o mesmo pedido que alguém fez à 178 anos atrás.

"Caro professor, ele terá de aprender que nem todos os homens são justos, nem todos são verdadeiros, mas por favor diga-lhe que, por cada vilão há um herói, que por cada egoísta, há também um líder dedicado, ensine-lhe por favor que por cada inimigo haverá também um amigo, ensine-lhe que mais vale uma moeda ganha que uma moeda encontrada, ensine-o a perder mas também a saber gozar da vitória, afaste-o da inveja e dê-lhe a conhecer a alegria profunda do sorriso silencioso, faça-o maravilhar-se com os livros, mas deixe-o também perder-se com os pássaros do céu, as flores do campo, os montes e os vales.
Nas brincadeiras com os amigos, explique-lhe que a derrota honrosa vale mais que a vitória vergonhosa, ensine-o a acreditar em si, mesmo se sozinho contra todos. Ensine-o a ser gentil com os gentis e duro com os duros, ensine-o a nunca entrar no comboio simplesmente porque os outros também entraram.
Ensine-o a ouvir a todos, mas, na hora da verdade, a decidir sozinho, ensine-o a rir quando esta triste e explique-lhe que por vezes os homens também choram. Ensine-o a ignorar as multidões que reclamam sangue e a lutar só contra todos, se ele achar que tem razão.
Trate-o bem, mas não o mime, pois só o teste do fogo faz o verdadeiro aço, deixe-o ter a coragem de ser impaciente e a paciência de ser corajoso.
Transmita-lhe uma fé sublime no Criador e fé também em si, pois só assim poderá ter fé nos homens.
Eu sei que estou a pedir muito, mas veja que pode fazer, caro professor."

Abraham Lincoln, 1830

1 comentário:

Mar disse...

Muito bem sim senhor..
Penso que não existiria melhor forma de iniciar este blog..
Afinal, apesar da taxa de natalidade continuar a diminuir, ainda há quem tenha a coragem de ter filhos... Coragem? Não sei se lhe podemos chamar assim.. Instinto maternal/paternal? O perpetuar da descendencia? Em alguns (muitos) casos devido a um acidente de percurso.. Quantas pessoas nos dias de hoje tomam a decisão consciente de ter um filho e pensam nas consequencias que isso acarreta? Numa sociedade em que cada vez somos mais egoístas... Num país com uma situação económica cada vez mais didicil para a maioria das familias e onde se exige cada vez mais... Produtos de higiene xpto, cremes, papas sem glutem, carrinhos com direcção assistida, roupas tão pequenas que custam mais que as de um adulto, um arsenal de materiais esterilizados e brinquedos que não sejam tóxicos... o preço das creches e dos jardins-de-infância... sim, poque já são raros os avós que tomem conta dos netos (até porque nem é aconselhado, as crianças precisam interagir com outras crianças e o jardim estimula o desenvolvimento. Numa sociedade em que se tem de trabalhar das 8/9h da manhã até às 18/19h, fora enfrentar as filas de transito até chegar a casa.. e entre todas as actividades extra-curriculares das crianças, e dos pais que devem praticar desporto, e por isso têm de arranjar espaço no seu horário para ir ao ginásio... Fazer jantar, e muitas vezes ainda levar trabalho para casa.. enfim...
Que tempo (e que vontade) resta afinal aos pais para educarem os seus filhos? E que tempo resta aos pais, como casal, para manterem e se dedicarem a um relacionamento a dois? Não é dificil perceber a elevada taxa de divórcios... e a crescente responsabilidade atribuida aos professores e educadores.
Afinal quem tem coragem de ter filhos?
São por isso cada vez mais as familias mais carenciadas, aquelas que até beneficiam dos apoios do estado, e que muitas vezes nem tem trabalho, que acabam por ter filhos..
Afinal... coragem ou insconsciência???